domingo, 19 de julho de 2009

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...

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Hoje eu sei, o passado passou, o futuro não me cabe saber e o presente deve ser vivido plenamente. Das coisas que já vivi, sei apenas que tudo passa e dificilmente uma situação vai se repetir em nossas trajetórias. Sejam bons ou ruins, nossos momentos não acontecem duas vezes. Pode ser que meses ou anos mais tarde estejamos diante dos mesmos personagens e cenários do passado. Mas garanto que o friozinho que vai percorrer (ou não) nossos corpos será totalmente diferente.
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Não são apenas as silhuetas e roupas que mudam, circunstâncias, sentimentos, olhares e sorrisos nunca se repetem. O coração sempre altera o compasso. A cada silêncio, cada palavra, cada conversa, cada escolha que tomamos definimos o nosso futuro. Aquela frase que ficou entalada na garganta ou a que sai quase sem querer quando estamos nervosos, o ‘eu te amo’ que deixamos de dizer ou demonstrar, aquela agonia de saber que não tentamos todas as possibilidades, que já é tarde demais para consertar o que passou. São importantes e rápidos detalhes que mudam tudo, e que não dá pra voltar e viver novamente. Não da mesma forma.
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Talvez quem inventou esse mundo tão dinâmico tenha razão, que chato seria se pudéssemos retornar e colocar cada palavra dita ou ocultada no seu devido lugar. Por outro lado, que ruim aprender com nossos erros e não pôr logo em pratica as lições. Da certeza de que nada pode ser igual, resta-nos apenas o consolo de que tudo que está por vir pode ser ainda melhor do que o que um dia foi.
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" Sempre tenho a estranha sensação, embora tudo tenha mudado e eu esteja muito bem agora, de que este dia ainda continua o mesmo, como um relógio enguiçado preso no mesmo momento – aquele".

[ Caio F. Abreu ]
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terça-feira, 14 de julho de 2009

" Minha princesa! "

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.* É assim que ele me chama de vez em quando. Me chamava bem mais quando eu era menor (e parecia uma princesinha de cachos castanhos, eu acho, rsrs. E hoje me deu vontade de escrever para ele).
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Pai, essa noite tive um sonho estranhíssimo (e mais estranho ainda é que faz um tempão que não tenho sonhos). Ainda comentei contigo enquanto voltávamos de Franco da Rocha. Só que eu resumi o sonho em poucas palavras: as férias tinham acabado antes da hora, eu voltava pra Itabuna e chorava a sua falta no meio da noite.
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A verdade, é que eu sonhei que o senhor quase morria. Tinha um problema de saúde, não sei exatamente qual, e parecia que tinha chegado a sua hora. E eu não entendia, porque o senhor sempre foi tão saudável, parecia que ia viver pra sempre. E eu não me conformava por ter voltado pra Itabuna antes da hora, por não estar por perto. Não que eu fosse ser extremamente necessária ou coisa assim, era mais por causa da saudade mal-resolvida que ia ficar depois. Mas não aconteceu. O senhor não morreu, no fim das contas. E inexplicavelmente (agora eu sei, porque foi um sonho) você estava em Itabuna, na minha casa, dando glória a Deus. E eu lhe dei aquele abraço que o senhor gosta tanto, dizendo exatamente isso. Que tive tanta saudade, que não ia aguentar, que Deus é bom. E o senhor passava a mão na minha cabeça, com todo o amor do mundo.
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Aí acordei. E essa talvez seja a primeira vez que um sonho me leva a tomar uma atitude de verdade. Mesmo que seja só umas palavras (e eu me dou bem com elas).
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Pai, eu te amo. Muito, muito, muito, mais do que eu pensei que amava até hoje. No decorrer dos meus quase 20 anos, acho que essa é a primeira vez que temos a oportunidade de conviver de verdade, como pai e filha. E hoje, depois de alguns dias maravilhosos ao seu lado, posso afirmar: eu tenho orgulho de tê-lo como meu pai. Amo o seu jeito doce de falar comigo, de viver, na verdade. Amo a forma como você trata as outras pessoas, sempre prestativo e atencioso. Amo o seu coração mole (e descobri, enfim, a quem eu puxei). Amo a sua paciência, a certeza que o senhor tem de que tudo vai dar certo porque Deus está no controle. Amo a sua inteligência peculiar, sua vontade de aprender mais sempre.
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A coisa mais fofa do mundo é quando o senhor vem da cozinha trazendo um pratinho de bolo, um sanduíche, ou biscoitos, e diz "come, Mille, é especialmente pra você". Mesmo que na verdade nem seja, aquela comidinha besta se torna especial por sua causa. Acho lindo o amor que o senhor tem por mim, pelos seus outros filhos, é um amor tão cheio de gentilezas que me inspira a ser alguém melhor, mais doce, mais amável.
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Você é o melhor pai do mundo, e eu te amo. Quando estou em Itabuna (ou em qualquer outro lugar), eu lembro sempre do senhor, e sinto muita falta do seu abraço e da sua mão na minha cabeça dizendo que "vai ficar tudo bem, minha princesa". E a parte real do sonho, é que vou sentir saudade de ver o senhor chegando do trabalho, sempre com um sorriso no rosto, e trazendo alguma besteirinha no bolso, porque lembrou da gente. Vou sentir saudade ainda do seu abraço de boa noite e do seu beijo de bom dia. E todas essas coisinhas pequenas que fazem uma diferença tão grande pra mim.
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Pai, eu sei que não disse tudo, porque nem caberia no papel, mas, sei lá, acho que essas palavrinhas valem pra o senhor saber que a sua princesa te ama.
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um beijo e um abraço daqueles,
Samille.
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"Pai, você faz parte desse caminho que hoje eu sigo em paz. "
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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Acho que me tornei anti-social.

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Eu só fui para minha primeira festa depois de entrar na faculdade. Não fico sem dormir por causa de noite na farra. Não fico sem dormir por causa de msn. Não fico sem dormir por causa de amor. Meu problema é preferir a madrugada mesmo, adoro o silêncio que acompanha esse horário. Boa parte dos meus contatos no msn está bloqueada, são justamente os que conversam demais. Adoro inverno, porque todo mundo fica automaticamente mais reservado, e eu não tenho que pedir desculpas pro resto do mundo por querer ficar em casa vendo um filme e tomando chocolate quente ao invés de ir à praia. Aliás, a própria praia é controversa pra mim. Gosto dela deserta, e gosto da areia toda pela frente, pra eu andar e pensar na vida, ou pra ter uma boa conversa com alguém. Gosto do mar, do cheiro e do gosto dele, e do cansaço que dá depois. Mas não gosto de usar biquíni, não gosto do exibicionismo próprio da praia, não gosto de ter pessoas me olhando e vendo se eu tenho ou não celulite.
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Não tenho turminha. É engraçado isso, porque me dou razoavelmente bem com todas as turminhas, mas nunca faço realmente parte de nenhuma. Falo com os nerds da faculdade, os meninos da resenha, a galera da cachaça (que abrange também os meninos da resenha), as meninos de fisioterapia, o pessoal de jornalismo, os veteranos, as meninas certinhas. Mas se me perguntarem com quem eu ando pra me dizerem quem sou, não sei...
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Algumas pessoas têm necessidade de viver mais pra dentro que pra fora. Sou eu. O meu pra fora são as palavras escritas, e o meu pra dentro é uma bagunça que não quero que ninguém se atreva a ver. Nunca consegui contar tudo, tudo mesmo, pra amigo nenhum, e sou muito mais de ouvir do que de falar quando se trata de relacionamentos. Já falei demais uma vez e me machuquei um bocado, então deve ser um mecanismo de defesa. Falo muito quando tenho um ponto de vista e preciso provar que está certo, ou pra contar alguma boa história.
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Sou muito curiosa, mas guardo as perguntas pra descobrir sozinha, porque seriam muito esquisitas pra dizer em voz alta. Desenvolvi uma capacidade enorme de bisbilhotar a vida das pessoas pela internet, pelo simples fato de ter vergonha de perguntar. Sou tímida, embora pouca gente acredite. Espero as pessoas falarem comigo, e odeio tomar a iniciativa quando estou interessada em alguém. Fico vermelha muito fácil, e talvez parte dessa timidez toda seja porque sou transparente demais com as coisas que sinto. Aí, em vez de me arriscar a demonstrar qualquer outra coisa, começo a rir. E todo mundo diz que sou luminosa, alegre, simpática, espevitada, ninguém vê o que está por baixo. E eu achava que gostava assim, até perceber que coloco o meu pra dentro num blog público que recebe cerca de 20 visitas por dia. Aí entendi que todo mundo precisa se expor de alguma maneira, deixar saberem o que você pensa, o que você sente, o que aconteceu, pra que o mundo te entenda. A minha maneira é essa.
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Acho que não nasci anti-social. Minha mãe conta que quando eu era pequena, adorava a casa cheia de gente, curtia minhas próprias festas de aniversário, pedia para as visitas não irem embora, egostava de me exibir, e falava pelos cotovelos. A concha é que foi ficando mais espessa por causa das coisas que aconteceram. E o bichinho de dentro, mais frágil. (Ou não!)
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"As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra..."
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[ Caio F. Abreu]

sábado, 4 de julho de 2009

Sobre a saudade e o são joão...

Posso lembrar com riqueza de detalhes daquele 1º de Abril de 2008. O livro de matemática jogado em cima da cama e uma coragem zero para começar a estudar trigonometria no triângulo retângulo pela segunda vez, a janelinha do MSN piscando e nenhuma paciência para responder a quem ousava interromper o meu momento de insatisfação plena.
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Se fizer um pouco de esforço, consigo até lembrar da bermuda azul que usava, do cabelo preso num coque e dos gritinhos agudos e estridentes que saíram da minha boca ao ver o meu nome na lista dos aprovados no vestibular da UFRB.
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Acho que, até então, esse foi um dos dias mais emocionantes da minha vida. Descobri no dia 1º de Abril que havia passado no vestibular, a matrícula deveria ser feita no dia 3, e as aulas já haviam começado, ou seja, tinha apenas 24h para colocar 17 anos em uma mala e mudar de cidade. Não sobrou tempo para pensar se eu queria ou não ir, as únicas horas livres que me restaram foram dedicadas a uma breve despedida de amigos e familiares.
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Confesso, tive medo. Medo de deixar pra trás o que eu achava que me pertencia aqui. Medo de não conseguir lidar sozinha com os problemas da vida. Eu, no auge dos meus 17 anos, nunca tinha dormido uma noite fora de casa antes desse 1º de Abril, como assim morar sozinha em uma cidade tão distante? Tive muito medo de estragar tudo.
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Lembro de ter ido fazer a matrícula e a mudança no dia 3, e lembro também de ter voltado pra Itabuna no dia 4 com toda a mudança no fundo do carro. Foi difícil deixar tudo pra trás sem um tempo considerável para me acostumar com a idéia. Entre lágrimas, bronca de vó, conselhos de mãe, decidi voltar (e foi uma das decisãos mais acertadas que já tomei na vida).
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Aos poucos, o medo cedeu lugar à certeza de que eu saberia exatamente o que fazer. E lá, naquela pequenina cidade entre montanhas que me acolheu tão bem, fiz amigos, aprendi a morar sozinha, a lidar com os afazeres domésticos, a ser dona da minha vida, a jornalizar, lá eu aprendi ainda que as coisas nem sempre acontecem como a gente quer, e temos que aprender a lidar com isso, que precisamos lutar pelo que queremos, que a vida nem sempre vai facilitar as coisas pra nós, mas não devemos desistir.
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O único ponto negativo, é que eu não conseguia me imaginar jornalista depois que os 8 semestres passassem, e isso me angustiava. Eu gostava do curso, me identificava com as letras, tinha os melhores professores doutores, ph.D da região, mas eu estava cursando jornalismo, e pensando em fazer direito quando saísse dali. No decorrer do terceiro semestre essa divergência de desejos e interesses me irritou a tal ponto, que resolvi desistir de tudo por lá e voltar pra Itabuna.
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Não me arrependo de ter mudado de curso, mas sinto falta da vida por lá... e esse rodeio todo que fiz no texto foi só pra dizer que o são João foi perfeito, que as coisas por lá continuam do mesmo jeito que eu deixei, que a felicidade ainda me visita quando estou em frente ao paraguaçu, que fiz amigos de verdade no interior daquele interior, que quero voltar mais vezes para lá, e que a vida aqui vai bem, obrigada, só falta um pedaço de Cachoeira em mim.
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"Estou de volta pro meu aconchego, trazendo na mala bastante saudade..." :)