domingo, 30 de novembro de 2008

A diferença entre derramar e espremer as palavras.

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Sim, eu já conhecia. Já escrevi dissertação pra vestibular, já escrevi redação com tema na escola, já escrevi trabalho de faculdade. Mas nada, nada se compara ao “espremimento” que é escrever um artigo científico.
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Assim que soube que três dos meus trabalhos realizados em sala de aula iam ter que render um artigo no final - traduzindo: três artigos para o fim do semestre -, eu meio que bloqueei o assunto internamente. Mas externamente, o assunto ainda estava lá, eu ainda ia ter que fazer saírem 26 laudas da minha cabeça. E se fossem 26 laudas tranquilas, do meu jeito, como se fosse eu escrevendo pra mim, como se fosse aqui, era super tranquilo. Mas vá dizer tudo que você quer dizer em linguagem científica. E eu que por um momento achei que ia tirar de letra, porque tenho costume de escrever, porque tenho vocabulário bom. Rum!
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Estava certo quem disse que a ignorância é a chave da felicidade. Eu ia morrer feliz sem saber do tanto de coisa que ainda não sei que não sei (ficou confuso? Dane-se, isso não é um artigo). É horrível a sensação de branco total, do mais puro e enorme nada que toma conta da minha cabeça justamente quando tenho que encontrar A palavra que vai fazer todo o sentido, que vai deixar o texto coerente, que vai soar bonito, que vai me fazer parecer inteligente pra quem ler depois. Sim, porque o único e exclusivo propósito do escrevimento de um artigo é fazê-lo ser aprovado pelo professor de super-mega-Phd de Tal-Matéria-Assim-Assim, e a única maneira de conseguir isso é fazer o professor pensar que você é de fato inteligente e produziu algum conhecimento relevante pra a sociedade acadêmica.
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A introdução de um dos três artigos saiu hoje, 5 parágrafozinhos em 2 colunas, depois de 6 horas de sangue, suor e lágrimas na frente da torturante tela do Word. Só pra depois eu escutar que a introdução é a última coisa que se escreve no artigo, porque ela é tipo um resuminho de tudo que o PhD lá vai ler (e, dependendo do teor da introdução, nem lê). No fim das contas gostei, mas ainda tem, tipo, 90% pra parir. Vai levar 2 semanas de vida. Esse post de hoje, por outro lado, não levou nem 10 minutos. Aqui elas só escorrem e pronto, as palavras.
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Com cara de intelectual (tentando intimidar as palavras para que elas se escorram...). rs.