quarta-feira, 26 de setembro de 2012

E pra nossa sorte, com o tempo a gente esquece.

Com o tempo a gente esquece que as duas horas que passamos no banho vão atrasar a leitura dos cinqüenta e três artigos que precisavam ser lidos para uma prova no dia seguinte, e se lembra como foi delicioso tomar um banho demorado depois de passar a tarde inteira debruçada sobre processos e correndo contra os prazos, porque a prova no outro dia é tão somente mais uma prova. Com o tempo a gente esquece a reserva que fez no restaurante mais badalado da cidade, e passa uma tarde inteira comendo brigadeiro de colher. E, às vezes, também se esquece que aquele petit gateau maravilhoso possui milhares de calorias, e que faltou sal na pipoca, e que acabou o pão integral – e não se importa, porque não faz mal passar um dia sem pão integral, porque sal demais aumenta a pressão, e porque comer aquele petit gateu uma vez na vida não vai fazer disparar os ponteiros da balança. Com o tempo a gente esquece que a película do carro não é tão escura, e que quando paramos no sinal as pessoas reparam nas caras, bocas e danças que a gente faz enquanto canta junto com a música.


Com o tempo a gente se esquece de ligar o computador, carregar o celular e perder tempo em frente à TV, e dá vontade de passar uma tarde inteira na beira da praia tomando água de côco e jogando conversa fora, ou de ficar em casa com o corpo largado no sofá, curtindo um abraço e uma taça de vinho. Com o tempo a gente esquece que acabou de secar o cabelo e descobre que bom mesmo é se aventurar por entre os pingos d’água, é lavar a alma numa chuva inesperada. Com o tempo a gente esquece como se faz as malas, porque descobre que não é preciso mais do que disposição e um sorriso no rosto para fazer de uma viagem algo inesquecível. Com o tempo a gente esquece o relógio, o que passou, o que virá, e começa a viver o presente sem pressa do futuro. É que, com o tempo, a gente pára de se importar tanto com os espinhos e começa a apreciar a beleza da flor, e a gente se dá conta do que nos faz feliz, e a gente se lembra da gente. E disso, quando a gente lembra, a gente nunca mais se esquece.


.
"Coisa simples é lindo, e existe tão pouco"... :)

domingo, 23 de setembro de 2012

Pequenas loucurinhas...

Dezembro de 2010. Dois desconhecidos ligados por uma brincadeira de mau gosto. Ele a irritava profundamente. Ela era motivo de riso para ele em rodinha de amigos. E nenhum dos dois imaginava que o destino os colocaria dividindo uma mesma história futuramente.
.
Dezembro de 2011. Era reveillón. Possivelmente haviam milhares de pessoas desconhecidas na cidadezinha do interior em que se encontravam, mas quis o acaso que eles se esbarrassem, entre tantos outros. Ela não o reconheceu de imediato. Ele contou com a ajuda de um amigo em comum para recordar-se de alguns flashes do reveillón passado. Ele agora queria, ao invés de rir dela, fazê-la sorrir. Ela não cedeu, achou que ele estivesse bêbado demais para saber o que queria naquela noite, preferiu deixar para um outro dia, e entregou o futuro encontro novamente nas mãos do acaso. Ele achava tudo isso uma bobagem e repetia a cada instante, "felicidade a gente não deixa esperando, pequena". Ela permaneceu irredutível, no nível alcoólico em que ele se encontrava, possivelmente nem lembraria dela no dia seguinte. E aí ela foi surpreendida com uma mensagem dele no meio da madrugada "vamos burlar o destino?". Ela cedeu. Um beijo. Alguns sorrisos. Uns passos de dança. E um adeus. Ele queria mais. Ela se esquivou. E perderam-se novamente.
.
Fevereiro de 2012. Nele, uma hérnia, um super amigo informando às moças bonitas que ele havia feito uma cirurgia e ficaria feliz em receber mensagens estimando melhoras. Nela, um arrependimento por ter se esquivado tempos atrás, e uma oportunidade de se reaproximar sem deixar o orgulho de lado. Uma mensagem timidamente enviada. "Soube da cirurgia, espero que esteja bem, um beijo". A resposta veio  imediata e acompanhada de um convite "quando aparece?".
.
Julho de 2012. Muitas mensagens e alguns meses após o convite feito por brincadeira, resolveram torná-lo real. "Quero muito que chegue logo o amanhã para eu ver esse sorriso lindo" dizia a mensagem que a fez passar a noite inteira com um sorriso brincando nos lábios aguardando por aquele encontro. E para surpresa dela, ele realmente veio, e ambos demonstraram tanto prazer de estar na companhia um do outro que, em nenhum momento, arrependeram-se por ter trocado um final de semana de qualquer outra programação para estarem ali. Ele não se conteve e comentou ao se despedir "estava tenso antes de chegar, tive medo que você fosse uma chata e que esse final de semana fosse terrível, mas te achei espetacular, fofa, simpática, linda, e quero te ver de novo, sério."
.
Setembro de 2012. Ela não levou a sério o convite que ele havia feito pouco antes de se despedirem. E ele, apesar de desejar muito, não acreditou que ela iria mesmo. Eis que ambos surpreenderam-se positivamente. Para ele foi "impressionante como acordei feliz hoje". Para ela, impressionante mesmo foi, depois de tanta gente de conteúdo duvidoso ter cruzado o seu caminho, encontrar alguém bacana por quem sentia vontade de se esforçar um pouco.
.
19:30h. Após duas horas de atraso dela, ele ainda a esperava com um sorriso no rosto e um arranjo de flores nas mãos. E o cartão que encantou a noite dizia "o perfume da rosa mais enfeitada pra te colorir e te cobrir de bem querer". Ele não conseguia disfarçar o encanto diante do esforço dela de cambalear durante horas num ônibus desconfortável só para passar alguns dias ao lado dele. E ela teve certeza de que todo o esforço valeu a pena ao perceber que ele havia dedicado algumas horas do seu dia para surpreendê-la com uma recepção cuidadosamente planejada, com direito a flores, CD personalizado, jantar à beira mar, e aquele sorriso encantadoramente delicioso dançando em seus lábios. Dentre as músicas escolhidas por ele, uma em especial lhe atraiu a atenção "ela me faz tão bem, que eu também quero fazer isso por ela". E era exatamente assim que se sentia em relação a ele, vontade de fazê-lo sentir-se bem, tanto quanto ele a fazia. 
.
E depois de muitas risadas e conversas intermináveis, o final de semana terminou cheio de saudade. Nela, a alegria de descobrir que ainda existe gente bonita nesse mundo, gente por quem vale a pena se esforçar para estar perto. Nele, a vontade de tê-la por perto mais um pouquinho, e o convite sincero para que "volte sempre, sempre mesmo!!!".
.......
...
.
"e o perfume da rosa mais enfeitada pra te colorir e te cobrir de bem querer..."
..

Sobre o amor e as suas diversas formas de se reinventar...

"Pra te colorir e te cobrir de bem querer" dizia o cartão que alegrou a noite. E ela, que andava triste e descrente dos rapazes, ao ser recepcionada com um buquê de flores, músicas especialmente selecionadas e um sorriso brincando nos lábios, descobriu que ainda existe doçura nesse mundo.
.
Ele confessou certa vez, temia que ela fosse como essas meninas comuns, que a gente torce para que "virem pizza" depois de alguns instante ao nosso lado. Mas com ela era diferente, com ela tinha papo cabeça, papo sem cabeça nenhuma, pequenas loucurinhas, sessão fotográfica, estudo de tartarugas, invenção de dialetos tipicamente baianos, tentativas frustradas de aprender algumas regras do futebol, vontade de sorvete à noite, se perder na Ribeira, pôr do sol no Humaitá, e sorrisos, muitos sorrisos, o tempo inteiro. Com ela, ele nem cogitava pôr em prática essa metáfora de "fazer virar pizza". Com ela, ele queria dividir uma salada, uma cama aos domingos, um abraço nos dias frios, uma viagem a Argentina e muitos encontros futuros.
.
E ela, já tão cansada de falsas promessas e sorrisos encantadoramente fingidos, mantinha um dos pés atrás, numa tentativa tola de garantir que a queda, quando chegasse a hora, não fosse muito impactante. Mas, incrivelmente, ao lado dele ela não tinha medo de sofrer, ou talvez achasse que por ele valia à pena o risco. E ela tinha aprendido, e pra nunca mais esquecer, que pra viver de verdade a gente precisa ter coragem para se arriscar num futuro incerto, pra se permitir envolver e para levantar e reescrever um novo conto, se preciso for.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Conselhos para moça de sorriso aberto...

Aprende, minha pequena, e de uma vez por todas, que quem te merece de verdade vai sempre encontrar uma forma de vir até você. A vida é tão curta, e você tão bela, que não vale se esforçar tanto para permanecer ao lado de alguém que não sabe se quer estar ao seu lado. Só vale dedicar o seu tempo a quem se importa de verdade em vê-la sorrir, a quem troca um feriado de farra com amigos para passar um final de semana ao seu lado romanceando à beira-mar, a quem dirige 500km (só de ida) para surpreendê-la com uma visita inesperada, a quem se oferece para sair no meio da madrugada pra te comprar um antiinflamatório, só porque comentou que a dor no braço começou a incomodar e você não estava conseguindo dormir, a quem se mostra preocupado com uma tosse boba como se esta fosse um câncer raro, e insiste para que procure um médico imediatamente, a quem se dispõe a perder uma madrugada inteira elaborando trilha sonora para um determinado encontro, a quem passa duas horas esperando num aeroporto lotado com um arranjo de flores nas mãos e ainda te recebe com a maior satisfação do mundo, sem reclamar do atraso na chegada, a quem se oferece para levá-la ao médico, porque naquele horário dificilmente você encontraria lugar para estacionar, a quem passa uma noite de sexta-feira te esinando matemática financeira pelo MSN e acha aquele o programa mais prazeroso pra uma noite, a quem atravessa uma cidade inteira só para vir te trazer um bombom para adoçar o dia. Não se apegue a palavras, pequena, pois elas o tempo leva, a memória apaga. São pequenas atitudes que demonstram o bem-me-quer de alguém. E só vale a pena se esforçar para permanecer ao lado de pessoas que, com atitudes, demonstram que ao nosso lado estão exatamente onde queriam estar. Quanto ao resto, ninguém nunca precisou dele pra ser feliz.
.
.
Não é que acordei me achando hoje?
Agora neguinho me trata mal e eu não deixo.
Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar.
Dei de achar que mereço ser amada.
(Caio F. Abreu)